quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mães que perdem o bebê na gravidez: o que fazer?


            Certas coisas não têm explicação. A dor de perder um filho durante a gestação, por exemplo, está longe de ser entendida por aqueles que não passaram por isso. A ginecologista e obstetra Gisela Traut Kirst, da Clínica Medcorps, afirma que uma gravidez interrompida deixa uma sensação de vazio e mexe com sentimentos de impotência ou culpa. "Não é raro descobrirmos que uma gravidez foi interrompida há semanas e a mãe não sabia. Diante da notícia, ela têm dificuldade em acreditar e se pergunta: 'o que eu fiz de errado'?", conta. 
            A psicóloga Carina Chagas Siviero, do Hospital Santa Cruz, afirma que a família é essencial nesse momento, e que a mãe também pode tomar algumas atitudes para ajudar na superação. Adote os conselhos dos especialistas a seguir.

            Primeiras semanas
           Neste primeiro momento, a mãe pode ter as mais diversas reações, desde culpar o médico e os familiares pelo acontecido até jogar toda a culpa em si. Mas nada disso deve ser condenado. "A mulher pode falar e fazer coisas absurdas nesse tempo e a família tem que compreender e respeitar", conta a psicóloga Carina. 
            A psicoterapeuta Blenda Oliveira, de São Paulo, explica que a mãe pode até continuar a vida como se a criança ainda estivesse viva: deixar o quarto intacto, lavar as roupas que seriam do bebê e etc. Porém, o ideal é que a mãe não fique paralisada nisso por muito tempo.
           Carina conta que é importante que a mãe viva toda a fase ruim nas primeiras semanas, para que possa superar. "Ela vai sofrer muito, mas dessa forma entrará em contato com as mudanças internas e externas que terá de encarar daqui pra frente", explica a profissional.

           Não segure o choro
           O ato de chorar nessa primeira fase é muito importante, já que ele libera a tensão acumulada e ajuda, inclusive, a prevenir doenças. Pode parecer estranho, mas a família pode até incentivar o choro da mãe em alguns momentos. 
          Afinal, uma mulher que perde o filho durante a gestação havia criado toda uma expectativa, imaginando tudo o que o filho poderia ter sido e ter feito, e agora infelizmente não verá isso acontecer. Esse sofrimento tem que ser respeitado.

            O que a família pode e deve fazer
           "A família deve acompanhar a mãe nesse processo, sempre com muita paciência", conta Carina. Os familiares devem estar sempre ao lado e à disposição. O ideal é procurar saber o que ela precisa em vez de ficar sugerindo ou recomendando saídas para o sofrimento.
           "Os parentes devem incentivá-la a falar o que sente e o que pensa, mas sempre dentro dos limites dela. As mães costumam ficar pensando no que gostariam de ter visto o filho fazer. O ato de ela expressar essas coisas ajuda a compreender o acontecimento e fechar o ciclo", explica a psicóloga Carina. 
            A psicoterapeuta Blenda Oliveira também lembra que, se a família perceber que a situação está ficando preocupante - a mãe parou de comer ou entrou em um estado de prostração, por exemplo -, é preciso ajudar, mesmo que dentro dos limites da mulher. Procure incentivá-la a comer, a caminhar e a se distrair em alguns momentos. 

            Se a tristeza não for embora...
            O limite é muito difícil de ser enxergado, mas há alguns casos em que a tristeza pode evoluir para uma doença. "No início, é difícil perceber o que pode fazer parte do processo e o que beira a patologia, já que qualquer reação pode ser esperada", diz a psicóloga Carina. "O que vai dizer se é patológico ou não é o tempo", completa.
            Se a mãe ficar paralisada no momento da perda da criança, sem apresentar nenhum sinal de avanço, é bom ter cuidado. As doenças que geralmente estão associadas a essa situação são: problemas de controle alimentar - que podem causar obesidade ou anorexia -, depressão crônica, insônia e excesso de agitação - a mãe fica em constante atividade para não ter que lidar com o sentimento de perda.
           Também pode acontecer de a mãe se concentrar 100% nos outros filhos que tem - tornando-se superprotetora - ou deixar as crianças de lado, pois não consegue cuidar de um sem lembrar-se do outro. Em todos esses casos, é fundamental procurar um profissional qualificado para tratar o trauma da melhor maneira possível.